10 de jul. de 2008

O caso Daniel Dantas

Deu no blog Notícias da Corte:
* É divertido, não fosse o retrato mais pungente da miséria moral e institucional brasileira, assistir o Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, condenar a prisão de Daniel Dantas pela Polícia Federal. Mendes se vale do velho argumento do ‘espetáculo midiático’ para dizer que a PF rompe com os princípios do Estado Democrático de Direito. No relatório da PF, um dos assessores de Dantas diz que o chefe só tem medo da primeira instância da Justiça, "no STJ e no STF ele resolve tudo". O próprio Dantas, em entrevista à revista Piauí de junho de 2007, diz que teme a Polícia Federal. Quanto ao resto, não perde o sono.
* Registro histórico: Gilmar Mendes foi advogado-geral da União durante o mandarinato de FHC e deve ao tucano a indicação ao STF. Dantas possui estreitas ligações com o esquema do Mensalão e com figurões do PT, mas foi durante o governo do PSDB que construiu seu império empresarial, sendo personagem do processo de privatizações das telefônicas, quando adquiriu a hoje Brasil Telecom, com aporte financeiro do Grupo Citibank. Daniel Dantas protagonizou o escândalo dos grampos telefônicos que derrubaram o ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (há quem diga que ele é quem mandou gravar tudo e divulgou à imprensa quando interessou), contratou como consultores Elena Landau e Pérsio Arida, os ‘pais’ do processo de privatização, e costumava ser recebido para jantar no Palácio da Alvorada por FHC (e no dia seguinte ocorriam mudanças ou eram anunciadas medidas que beneficiavam Dantas).
* O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) é considerado o líder da bancada de Daniel Dantas no Congresso Nacional.
* Dantas sustentou as ancas do PT a pedido de José Dirceu e Delúbio Soares, na esperança de ter suas demandas atendidas pelo governo petista. Encontrou a resistência de Luiz Gushiken. Durante as CPIs dos Correios e do Mensalão, tudo foi investigado, menos as relações com Dantas e a origem dos recursos, investigação impedida por decisão da ministra Ellen Gracie, do STF, outra indicada por FHC.
* Além do meio político, Daniel Dantas possui intensas relações com jornalistas e empresas de comunicação, o que, previsível, até agora não veio à tona. Na imprensa, já se lêem citações unilaterais das ligações de Dantas com Lula e com o PT, sem referência aos contatos e às histórias tucanas. É o indício para entender a estratégia de DD para se livrar do imbróglio. Reinaldo Azevedo, na Veja, está desesperado. Reconheça-se a perspicácia de Diogo Mainardi, que há algum tempo anuncia toda essa história. Carta Capital, também, há muito tempo conta histórias de DD.* Como escreveu Ricardo Noblat, Dantas não é homem de entregar seus comparsas nas falcatruas (falta-lhe coragem, diz Mainardi). Ele se utiliza dos contatos para fugir de qualquer problema. O medo dos seus aliados é o conteúdo das gravações telefônicas obtidas pela Polícia Federal.

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